Aqui nos Estados Unidos o "jogging" é um bem cultural. Pode estar o maior frio, não importa, terá gente na rua praticando "jogging". Achei graça quando testemunhei este costume tão arraigado até nos parques naturais, como o Nichols Arboretum, entre as árvores dos bosques. Um dia estava com Eva, subindo devagar o vale por onde voltei a andar hoje, quando cruzamos com uma senhora que, surpresa com o nosso paço vagaroso, ao nos cumprimentar perguntou: - Onde vai este belo casal com um paço tão suave? Foi aí que me lembrei de outro estado-unidense, de outros tempos, o Thoreau, que era um fervoroso defensor da "arte de caminhar". Cada um tem seus ritmos e manias, assim como cada época tem sua relação particular com o tempo e com o espaço. O Thoreau viveu numa época que, se não era acelerada como a nossa, já estava adulando a velocidade no altar do progresso. Ele diz que mesmo na vida dele, lá nos Estados Unidos do século XIX, só chegou a conhecer duas pessoas que entenderam a "arte de caminhar". Já imaginou o que acharia do "jogging" de hoje em dia? Sobre o estilo de caminhada de que gostava, escreveu: "I have met with but one or two persons in the course of my life who understood the art of Walking, that is, of taking walks, who had a genius, so to speak, for sauntering [...]" Em seguida, passa a explicar o significado da palavra: "which word is beautifully derived from idle people who roved about the country, in the middle ages, and asked charity, under pretence of going à la Sainte Terre" — to the holy land, till the children exclaimed, 'There goes a Sainte-Terrer', a saunterer — a holy-lander. They who never go to the holy land in their walks, as they pretend, are indeed mere idler sand vagabonds, but they who do go there are saunterers in the good sense, such as I mean. Some, however, would derive the word from sans terre, without land or a home, which, therefore, in the good sense, will mean, having no particular home, but equally at home everywhere. For this is the secret of successful sauntering. He who sits still in a house all the time may be the greatest vagrant of all, but the Saunterer, in the good sense, is no more vagrant than the meandering river, which is all the while sedulously seeking the shortest course to the sea. But I prefer the first, which indeed is the most probable derivation." Assim, para Thoreau, "saunter", que no sentido estrito quer dizer deambular, era algo como caminhar pelo simples gozo da caminhada, na busca de algum pensamento, engraçado ou trágico, sobre as coisas da vida. "Let's saunter!"