segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Entrevista: Amós Oz

Descobri Amós Oz ano passado com o livro "De Amor e Trevas", obra a qual minha primeira impressão foi de grande alegria e surpresa. Alegria pela descoberta de um escritor que pertence a uma cultura tão diferente e cujo contato me era quase ou até mesmo raro e escasso. O encantamento prosseguiu por meio da riqueza e beleza com que a obra se mostrou no desenrolar do desbravamento de suas linhas, parágrafo por parágrafo. O livro surpreende porque retrata um misto de retalhos de fatos históricos e recordações pessoais, portanto, a obra de Amós Oz, embora inicialmente um romance autobiográfico é fundamentada  no conflito Israel x Palestina. Nesse sentido, bastante significativa por envolver a história de sua família, mas também por envolver poetas, líderes sionistas e políticos – e tudo isso culmina em um livro infinitamente rico, belo e complexo.  

Semana passada fui presenteada por uma amiga muito querida e especial (Amanda Zampieri) - @thesunrises - com outra grande obra do então escritor mencionado: Amós Oz - A Caixa Preta. O livro tem sido outra grande excelente companhia e fico com a certeza de que Amós Oz se tornou meu escritor contemporâneo favorito. Não tenho dúvidas e me atrevo a dizer que o considero senão o maior um dos maiores intelectuais da atualidade. Não apenas pela sua inteligência, curiosidade e senso crítico, mas também pelo grande ser humano que se mostra ser em cada nova descoberta e leitura que tenho o imenso prazer em fazer. Hoje assisti a uma entrevista realizada pelo Roda Viva - TV Cultura e não pude deixar de escutar, re-escutar, sublinhar, grifar e compartilhar certos trechos que postarei a seguir e convido vocês a fazerem algo similar. ;-)

Roda Viva - Amos Oz - 02/01/2012 


“A minha utopia posso lhe dizer em uma palavra – paz. Essa é a minha utopia. Israel nasceu de sonhos monumentais. Outros países nascem em função da história, da geografia, da política, da demografia; Israel nasceu de um sonho. Tudo que nasce de um sonho está fadado a um certo desapontamento. Tudo. A única forma de manter um sonho perfeito, cor-de-rosa, é nunca concretizá-lo. Isso é verdade em relação a viagens ao exterior, a se fazer um jardim, a viver uma fantasia sexual. A única maneira de mantê-lo perfeito é não concretizá-lo. E Israel tem um quê de desapontamento porque nasceu de um sonho. O desapontamento não está na natureza de Israel, mas na natureza dos sonhos.” 

“Eu sou um homem secular, não acredito em religião alguma. Pessoalmente acho até que Deus não é religioso, acho que Deus não está interessado em religião,- mas você teria de entrevistar Deus e não a mim.”

“É bom esquecer. Não é bom esquecer o que esquecemos.”

“O senhor prefere livros ou pessoas? –Bem, eu prefiro pessoas e eu prefiro livros cheio de pessoas.”

“Tragédia e comédia não são dois planetas distintos, mas apenas duas janelas diferentes através das quais se vê a mesma janela da vida. Isso eu aprendi com Checkov”.

Senhoras e senhores: Amós Oz. 

domingo, 8 de janeiro de 2012

Let's Saunter, por Cristiano Pinheiro:

Aqui nos Estados Unidos o "jogging" é um bem cultural. Pode estar o maior frio, não importa, terá gente na rua praticando "jogging". Achei graça quando testemunhei este costume tão arraigado até nos parques naturais, como o Nichols Arboretum, entre as árvores dos bosques. Um dia estava com Eva, subindo devagar o vale por onde voltei a andar hoje, quando cruzamos com uma senhora que, surpresa com o nosso paço vagaroso, ao nos cumprimentar perguntou: - Onde vai este belo casal com um paço tão suave? Foi aí que me lembrei de outro estado-unidense, de outros tempos, o Thoreau, que era um fervoroso defensor da "arte de caminhar". Cada um tem seus ritmos e manias, assim como cada época tem sua relação particular com o tempo e com o espaço. O Thoreau viveu numa época que, se não era acelerada como a nossa, já estava adulando a velocidade no altar do progresso. Ele diz que mesmo na vida dele, lá nos Estados Unidos do século XIX, só chegou a conhecer duas pessoas que entenderam a "arte de caminhar". Já imaginou o que acharia do "jogging" de hoje em dia? Sobre o estilo de caminhada de que gostava, escreveu: "I have met with but one or two persons in the course of my life who understood the art of Walking, that is, of taking walks, who had a genius, so to speak, for sauntering [...]" Em seguida, passa a explicar o significado da palavra: "which word is beautifully derived from idle people who roved about the country, in the middle ages, and asked charity, under pretence of going à la Sainte Terre" — to the holy land, till the children exclaimed, 'There goes a Sainte-Terrer', a saunterer — a holy-lander. They who never go to the holy land in their walks, as they pretend, are indeed mere idler sand vagabonds, but they who do go there are saunterers in the good sense, such as I mean. Some, however, would derive the word from sans terre, without land or a home, which, therefore, in the good sense, will mean, having no particular home, but equally at home everywhere. For this is the secret of successful sauntering. He who sits still in a house all the time may be the greatest vagrant of all, but the Saunterer, in the good sense, is no more vagrant than the meandering river, which is all the while sedulously seeking the shortest course to the sea. But I prefer the first, which indeed is the most probable derivation." Assim, para Thoreau, "saunter", que no sentido estrito quer dizer deambular, era algo como caminhar pelo simples gozo da caminhada, na busca de algum pensamento, engraçado ou trágico, sobre as coisas da vida. "Let's saunter!"